sábado, 14 de julho de 2012

Ratos de açúcar na chuva.

"Você é um homem ou um rato?"

A moça brincou com o rapaz num Jogo da Verdade, ou o pai bêbado gritou com o filho quando este se encolheu ao ver o outro levantar a mão, ou o homem perguntou a si mesmo antes de respirar fundo e pedir demissão.

Imagino qual foi a primeira vez que esta pergunta foi feita, como foi feita. Provavelmente como um desafio, ou uma forma de caçoar. Provavelmente a pessoa, como todos os pais dos grandes ditos populares, nunca imaginou que sua afronta perduraria além de si mesmo. De qualquer forma, foi dito. Imagino como o interlocutor reagiu; se ele saiu correndo, se ele lutou, agrediu, ou se abaixou a cabeça. Se ele foi o Primeiro Homem ou o Primeiro Rato.

"E aí? Homem ou rato?"

Não é uma pergunta de fácil resposta, por mais idiota que ela pareça numa olhada rápida. O instinto e o ego nos empurram a estufar o peito, armar o olhar mais ameaçador possível e bradar "UM HOMEM!", por nenhum motivo a não ser esconder o fato de que, na verdade, ele é um rato (Se a pessoa reagir desta forma, ela provavelmente é um rato, e ela sabe disso. Ela provavelmente tem certeza disso. Ela mal pode suportar o fato de que ele mesmo sabe disso, então fará o que for necessário para que ninguém mais saiba disso também.), mas quando pensamos melhor a respeito, notamos que homens vão à guerras, homens se matam pelas coisas mais imbecis e efêmeras que já foram criadas (muitas vezes por eles mesmos); homens ferem e são feridos, homens castigam e são castigados, homens sentem. Ratos sobrevivem. Correm, comem, mas sobrevivem, grande parte das vezes em harmonia com a natureza. Se é assim, por que o impulso de se reafirmar como homem?

"Homem ou rato?"

Porque homens vão além de sobreviver. Por mais imbecis e autodestrutivos que por várias vezes sejam, vários notam o quão idiota esses hábitos são, alguns se rebelam contra isso, e, de tempos em tempos, um muda todos os paradigmas. Um revoluciona. Um recria.

Nós escolhemos ser homens e mulheres, e não ratos, porque nós não sobrevivemos. Nós vivemos. Nós são só nos adaptamos e aceitamos as circunstâncias; nós temos o poder de aceitar que podemos alterar as circunstâncias. A cada dia, a cada minuto e cada segundo, cada povo, cada grupo, cada ser tem a capacidade e o poder de escolha de revolucionar a sua realidade, em menor ou maior grau.

É uma escolha diária, repetida a cada momento, como em "Efeito Borboleta". Escolhemos ser ratos de açúcar na chuva e nos deixamos ser levados pela vida, ou levantamos e vivemos. A escolha foi ontem, é hoje e será amanhã.

Então?

Homem ou rato?

Um comentário:

  1. Ser homem é algo mais honroso. Ser rato dar menos trabalho.

    Talvez a pergunta seja: você é um homem ou um bicho-preguiça?

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